08 setembro 2016

Suicídio e Filosofia

O problema central: Se a vida não nos pertence, se não escolhemos o momento de nascer, o que nos autorizaria então a deixá-la quando assim deliberássemos?

O que é o suicídio? Por que algumas pessoas são levadas a este ato extremo? Como surgiu esta palavra? O que a filosofia tem a dizer? E a filosofia espírita? Com estas simples questões, iniciamos a nossa reflexão sobre este assunto que, na acepção de Albert Camus é o único problema filosófico verdadeiramente sério.

O termo suicidium surgiu no século XVII. Esta palavra leva-nos a fazer uma associação entre matar a si mesmo e o homicídio. Agostinho, por exemplo, analisa esta palavra em termos do sexto mandamento: "não matarás". Nas lucubrações genealógicas, procura-se distinguir o matar a si do sacrifício (ou martírio). Os primeiros cristãos buscavam o martírio. Seria um caso de suicídio ou de martírio? E a morte de Sócrates, guiada por seu daimon? 

Na Antiguidade havia argumentos pró e contra a morte de si. Sócrates dizia que viver é aprender a morrer. Os jovens podem supor que isso é um convite a evadir-se da vida. Aristóteles atrela a morte de si à cidade. Quem assim procedesse, não deveria ter enterro digno, e os corpos ficariam insepultos. A posição hedonista de Epicuro sobre a morte voluntária está assentada na sua doutrina da indiferença: o sábio não deve nem rejeitar a vida nem temer a morte.

Na Idade Média, marcada pelo predomínio da escolástica e dos dogmas religiosos, assiste-se a uma grande interdição da morte. As ideias do fogo do inferno para quem desobedecesse a normas da Igreja pesavam muito nas atitudes e comportamentos dos fiéis. Como dissemos acima, Agostinho referia-se ao sexto mandamento: "não matarás". Tomás de Aquino, por seu turno, reúne argumentos gregos (Platão e Aristóteles) e cristãos (Agostinho) para refutar enfaticamente a morte de si mesmo.

Passada a fase obscura da Idade Média, novas ideias surgem, principalmente aquelas estimuladas pelo Iluminismo, ou a Idade da Razão, cujo objetivo é combater as ideias centralizadoras da Igreja. Nietzsche, no discurso de Zaratustra sobre a morte livre, diz: Muitos morrem demasiadamente tarde e outros demasiadamente cedo. Ainda soa estranha a doutrina:'morra no tempo certo!'. Morra no tempo certo: assim ensinava Zaratustra."

Qual a posição espírita ante o suicídio? De acordo com a Lei Natural, Deus nos concedeu a vida e não podemos tirá-la por nós mesmos. De qualquer modo, temos o livre-arbítrio, o que pode nos levar a cometer o suicídio. Mesmo contrariando a Lei de Deus, no suicídio há que se considerar os atenuantes e os agravantes, ou seja, o ato de tirar a própria vida tem várias dimensões: há que se considerar o motivo, as influências dos amigos, os revezes que poderiam ser evitados, entre outros. 

Em síntese, os argumentos a favor e contra a morte de si devem ser analisados à luz da nossa consciência. No Espiritismo, a certeza da vida futura nos dá condições de saber que seremos menos ou mais feliz de acordo com a resignação que tivermos suportado os sofrimentos aqui na Terra.

Fonte de Consulta

PUENTE, Fernando Rey (Org.). Os Filósofos e o Suicídio. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

 


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