28 fevereiro 2016

Filosofia Clássica e o Helenismo

"A vida sem reflexão não vale a pena ser vivida." Citado por Platão, em Apologia a Sócrates

No século V a.C., a democracia triunfou na Grécia e trouxe como consequência uma maior participação das pessoas na polis. Surge, então, os sofistas (Protágoras, Górgias, Hípias...) um conjunto de pensadores que tinham em comum o fato de serem os primeiros educadores profissionais, pois cobravam por suas aulas. Ensinavam fundamentalmente retórica e humanismo, como moral e política. No princípio, sofista significava "sábio" (sophos); depois, pejorativamente, ganhou o sentido de hábil enganador. 

Quando falamos em filosofia clássica grega, lembramo-nos imediatamente de Sócrates, Platão e Aristóteles. Cabe destacar que as suas teses, em grande parte, tinham por objetivo demonstrar o erro dos sofistas, que eram considerados perigosos. Sócrates ficou famoso pelo "conhece-te a ti mesmo"; Platão, pela "Teoria das Ideias"; Aristóteles, pela "elaboração da lógica". Para Sócrates, por exemplo, a Filosofia era uma missão sagrada, que deve ser cumprida com risco da própria vida. Com essa atitude, opunha-se aos sofistas, para quem a educação era puramente uma arte, uma função utilitária.

Quando falamos da filosofia clássica grega, reportamo-nos a Platão e Aristóteles. Na época helenística, quando Alexandre, o Grande,  chega ao Poder (336 a.C.), outras escolas filosóficas surgiram: o epicurismo, o estoicismo e o ceticismo. O que essas escolas tinham em comum? Um sistema ético centrado no individualismo. Consequência: busca-se a felicidade a todo custo. "O indivíduo perde sua capacidade de intervenção na vida política e se retrai a uma esfera privada, na qual aspira apenas a cultivar a si mesmo".

Como dissemos anteriormente, os sofistas surgiram na Atenas do século V a.C., cuja filosofia cética enfatiza o espírito trágico, o qual é fundamentado na experiência universal dos seres humanos, isto é, na morte, na dor e no sofrimento. Observe a experiência da culpa: diante de qualquer conflito, a situação é ambígua. Isto é exemplificado nos personagens das tragédias: são culpados e inocentes ao mesmo tempo; agiram mal, mas provavelmente não teriam como agir diferente.

A ciência grega surgiu a partir de 600 a.C., mas inseparável do pensamento filosófico. Os gregos distinguiam dois tipos de saber: conhecimento puro e conhecimento que leva à transformação da natureza, próprio da ciência aplicada. O mais importante é o conhecimento puro; o fazer é secundário. Essa distinção explica a ausência do termo "científico" no mundo grego. Embora tivesse o termo episteme para se referir à ciência, este se referia ao conhecimento acima de qualquer dúvida, totalizante, que se adquire na filosofia.

Como vemos, os sofistas tiveram um papel relevante na história da filosofia, pois a todo momento estavam criando problemas para serem pensados.  

Fonte de Consulta

TEMÁTICA BARSA (Filosofia). Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005. 

 

25 fevereiro 2016

O Advento do Cristianismo

"Dai-me castidade e continência, mas não agora." Confissões

O pensamento grego e o cristianismo são fundamentais na formação da civilização ocidental. Sem o cristianismo, não teríamos condições de compreender os aspectos relevantes da cultura europeia. A relação do cristianismo com a cultura grega inclui uma oposição, ou seja, a verdade revelada perante a verdade racional, e um esforço de sintetizar razão e fé, que são duas opostas de se propor a compreensão do mundo.

A cultura grega é uma cultura politeísta, adora muitos deuses; a cultura cristã é monoteísta, adora um único Deus. A imagem de Deus no cristianismo é a de um único Deus, criador do mundo, onipotente, infinitamente bom e justo, transcendente (está fora do mundo). Por ser infinitamente superior, a divindade forma uma realidade totalmente distinta da criatura, que lhe é inferior. Os antropomórficos deuses gregos não estão fora do mundo, nem encarnam o absoluto e o infinito. 

Desde o começo da era cristão, o pensamento filosófico tenta solucionar o problema do Bem e do Mal, cuja unidade grega entre o cosmos e Deus se rompeu, e que se polariza na antítese Deus e Mundo. O Mal se identifica com a matéria do mundo provém da experiência da dor, da doença e da morte. A gnose, daí gnosticismo, é o tipo de conhecimento que pode levar à compreensão da união desses dois extremos separados pela matéria. 

Um dos fatos marcantes ocorridos no início da história do pensamento ocidental é o uso que o cristianismo faz da filosofia grega. O resultado é o aparecimento da patrística, ou seja, o esforço dos padres da igreja para elaborar uma doutrina que estabelecesse a continuidade com o mundo antigo pela via da razão e com o mundo cristão pela via da revelação. 

O grande representante da patrística é, sem dúvida, santo Agostinho (354-430) que, em Confissões, diz: "Dai-me castidade e continência, mas não agora". Para ele, como as verdades não podem nascer na alma, que é mutável, só podem se explicar por iluminação divina. Como saberíamos, não fosse a iluminação divina, o que é justo e o que é injusto? Se o sabemos é porque daquela verdade se "copia" toda lei justa. As duas principais obras deixadas por santo Agostinho são: Confissões e Cidade de Deus.

Deixou formulado indicando o caminho para a sua solução – o problema das relações entre a Razão e Fé, que será o problema fundamental da escolástica medieval. Ao mesmo tempo demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Entretanto, defronta-se com um primeiro obstáculo no caminho da verdade: a dúvida cética, largamente explorada pelos acadêmicos. Como a superação dessa dúvida é condição fundamental para o estabelecimento de bases sólidas para o conhecimento racional, Santo Agostinho, antecipando o cogito cartesiano, apelará para as evidências primeiras do sujeito que existe, vive, pensa e duvida.

Bibliografia Consultada

TEMÁTICA BARSA — Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005. 

 



24 fevereiro 2016

Filosofia Medieval

"[...] para o conhecimento de absolutamente qualquer verdade o homem precisa de ajuda divina." Suma teológica

A Idade Média começa no século V (dissolução do Império Romano) e termina no século XV (Renascimento). É considerado um período obscuro da história ocidental em que o pensamento se fixou num primitivismo sem conta, com a Igreja mantendo uma grande autoridade, tanto em política como na própria filosofia.

As discussões em torno da razão e fé predominaram por todo esse período. Em se tratando de filosofia, há uma grande oposição em relação à fé, pois enquanto a fé é objeto da revelação, a razão é objeto dos raciocínios argumentativos. A filosofia é considerada ancilla theologiae, serva da teologia, e os medievais são mais teólogos do que filósofos. Há grande esforço de se encontrar uma síntese entre fé e razão, que se rompe no final da Idade Média. 

O pensamento da Idade Média está centrado na escolástica. Escolástica vem de schola e significa o movimento religioso e teológico (século IX-XV) que se encarregava de conservar e transmitir a cultura. O seu método é a disputatio, a especulação, que busca a conciliação das verdades da fé e da razão, mas com a filosofia subordinada à teologia. Santo Anselmo pode ser considerado o primeiro expoente da escolástica. Seu objetivo é conciliar razão e fé, pois embora a razão não substitua a fé, ela poderia ajudar a compreender aquilo que fora aceito pela fé. 

O apogeu da escolástica encontra-se em Santo Tomás de Aquino (1227-1274), no século XIII, período em que o papado alcança grande poder sobre a política e a "revolução comercial" estimula as trocas econômicas. A escolástica é o método de raciocínio e discussão. O autor dessa complexa operação é Santo Tomás de Aquino e tem como resultado o tomismo, que a igreja adotará como norma. Sobre a questão da razão versus fé, Aquino acreditava se tratar de elementos separados mas complementares, ou seja, a razão era subserviente sem ser subordinada à fé.

Além do racionalismo escolástico, há uma corrente de pensamento místico. Herdeira das doutrinas de Dionísio Areopagita, essa corrente recebe a influência das ideias platônicas e do pensamento de santo Agostinho e se expressa por meio de símbolos e visões. "O misticismo medieval é, mais do que a expressão de um pensamento, a confissão de uma experiência religiosa que tem por objetivo limpar o caminho que conduz a Deus, elevando o homem do profano ao sagrado". Johannes Eckhart, dito Mestre (1260-1327) é o principal representante. 

Desde a queda do Império Romano, o pensamento se desenvolve muito lentamente. A ciência medieval é muito mais uma adaptação à ciência na época helenística do que algo original. Como tudo estava subordinado à teologia, a ciência servia apenas para confirmar experimentalmente as verdades religiosas estabelecidas pela igreja. Há, porém, as contribuições dos muçulmanos sobre a astronomia, a matemática, a medicina e a química). A maior contribuição, entretanto, está na química, graças ao domínio das técnicas de destilação.

Bibliografia Consultada

TEMÁTICA BARSA - FILOSOFIA. Rio de Janeiro, Barsa Planeta, 2005. 

 


14 fevereiro 2016

Origem da Filosofia: Do Mito à Razão

A passagem do conhecimento mítico ao conhecimento racional deu-se no começo do século VI a.C. na Grécia. Ocorreu primeiramente nas colônias gregas localizadas na Jônia, na costa da Anatólia. Esta revolução do conhecimento se reproduziu na Sicília e no sul da Itália e, depois, chegou a Atenas. Em Mileto de Éfeso, houve uma verdadeira transferência de conhecimentos astronômicos e matemáticos, que estimulou a investigação direta dos mistérios do Universo. 

Desde o começo da história, o desconhecimento das coisas deixa o ser humano desnorteado e, com isso, apodera-se dele o medo e a incerteza. A necessidade de superar essa incerteza levou o indivíduo a buscar algum domínio da natureza e, consequentemente, ter alguma tranquilidade. Isso quer dizer conhecer. O mito constitui a primeira tentativa da humanidade de interpretar os mistérios do Universo. Ele tem a forma de uma narrativa e se refere sempre a uma criação, conta a forma como alguma coisa começou a existir. 

Physis é a palavra-chave para a compreensão do início da filosofia, mais especificamente a filosofia pré-socrática. Geralmente, traduzida por Natureza, o que não espelha o seu verdadeiro sentido. Para os antigos filósofos, a physis refere-se a tudo o que se pode imaginar: os rios, as estradas, o planeta, o tempo, o ódio, o amor. Martin Heidegger assim se expressou: “À physis pertencem o céu e a terra, a pedra e a planta, o animal e o homem, o acontecer humano como obra do homem e dos deuses, e, sobretudo, pertencem à physis os próprios deuses”.

O nascimento do pensamento racional está ligado ao aparecimento da pólis. Na polis grega, os pensadores dispensaram a influência de agentes e forças sobrenaturais, ficando apenas com a razão e a experiência. Em seus debates sobre a ordem necessária, as formas de governo e o modo de agir deram também origem à filosofia, que é antes de tudo o amor ao saber, e mais precisamente conhecer a verdade, não pela fantasia, pela narrativa, mas pelo uso da razão, no sentido de o ser humano construir o seu próprio destino.

Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Xenófanes de Cólofon, Heráclito de Éfeso, Pitágoras de Samos, Parmênides de Eléia, Zenão de Eléia, Empédocles de Agrigento, Filolau de Cróton, Anaxágoras de Clazomena, Diógenes de Apolônia, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera são os representantes da filosofia pré-socrática. Nos seus fragmentos e nas suas poesias estão todo o conteúdo filosófico. Tales de Mileto, por exemplo, trouxe-nos a ideia de a água ser a substância primeira da matéria.

Vasculhemos as ideias desses filósofos, pois elas nos retratarão com perfeição como o pensamento passou do mito à razão. 

Fonte de Consulta

TEMÁTICA BARSA - FILOSOFIA. Rio de Janeiro, Barsa Planeta, 2005.