28 janeiro 2016

"A Era do Conhecimento": Notas Extraídas do Livro

NOTAS EXTRAÍDAS do livro A Era do Conhecimento: Princípios e reflexões sobre a revolução noética no século XXI, de Marc Halévy, pela editora Unesp.

Noética

Palavra rara, mais frequente em inglês (noetic), "noética vem do grego noos, que significa "conhecimento, inteligência, espírito".

A noética trata da economia das ideias. Concentra-se no estudo e no desenvolvimento de todas as formas de conhecimento e de criação que geram e alimentam a noosfera. 

Prólogo

Sem ser nem circular nem determinista, a história da humanidade é marcada por ciclos: desenvolve-se em uma espiral irregular que corta regularmente os mesmos eixos ou fases (ruptura, ascensão, auge e declínio). Nossa época é de ruptura. 

Nossa época, a modernidade, desenvolveu-se com base nos seguintes valores: humanismo, materialismo, estatismo, capitalismo, racionalismo, cientificismo, progressismo, hedonismo, individualismo etc. 

Toda ruptura é a passagem de um ciclo para o seguinte. Implica parto, sempre doloroso. 

Até cerca de cem anos atrás, todos acreditavam, como bons cartesianos, que o mundo era fruto da justaposição de tijolos elementares imutáveis, cimentados por leis universais imutáveis. O próprio Descartes especificou de maneira clara: as partes explicam totalmente o todo e o todo é exatamente a soma das partes. Para compreender um relógio, basta desmontá-lo, examinar as peças com atenção, compreender sua função e tornar a montar o todo.

Este raciocínio mudou. Quanto mais complexo um sistema — portanto não redutível a seus componentes —, mais preponderantes o número e a pregnância das propriedades emergentes. Resumindo: um sistema é complexo quando seu todo é mais que a soma das partes.

Descartes sistematizou a metodologia que leva seu nome (e data de Platão e Aristóteles) em quatro princípios:

a evidência (duvida de tudo, exceto do que é evidente);

o analitismo (o todo deve se explicar integralmente por suas partes);

a redução (o todo se reduz à exata soma de suas partes);

a exaustividade (para compreender o todo, é necessário compreender tudo de cada uma de suas partes).

O pensamento complexo é pós-cartesiano no sentido em que observa que o método cartesiano só se aplica aos sistemas simples. A partir do momento em que um sistema é complexo, nada é evidente, porque tudo depende do olhar que é lançado (relativismo), o todo e as partes evoluem de modo dialético (sistemismo), o todo é bem mais que a soma das partes (holismo) e o todo se compreende a partir de suas finalidades, independentemente de suas partes (teleologia).

Do ponto de vista filosófico, o evolucionismo cósmico é uma teoria nascida do encontro entre a relatividade geral e o big bang, de um lado, e uma visão teleológica à maneira de Bergson ou de Teilhard de Chardin, de outro. A ideia central é que o universo, tomado como um todo único e unitário, é um sistema complexo que evolui, dilatando-se e complexificando.

Vivemos hoje na Terra o surgimento de um novo grau: graças ao neocórtex, as sociedades humanas puderam desenvolver linguagens poderosas, que permitem a formulação de ideias complexas, e, ao mesmo tempo, tecnologias eficazes (informática e telecomunicações), que permitem o tratamento em massa e a transmissão rápida de grandes volumes de informação.

O casamento entre essas linguagens e essas tecnologias, ocorrido há menos de cinquenta anos, tornou possível o surgimento e o desenvolvimento da noosfera e da gnosiosfera

A noosfera é essa "camada" de saberes e de conhecimentos que cobre toda a Terra e suas redes, e sobrepõe-se à sociosfera. A noosfera é uma "camada" imaterial plantada acima da sociosfera humana, mas distinta dela (como a árvore é plantada no húmus, mas distinta dele).

Gnosiosfera. Essa palavra, criada com base na mesma estrutura da litosfera, biosfera, sociosfera ou noosfera, mas a partir da raiz "gnosio" (conhecimento global), indica a "camada" que virá sobrepor à noosfera, tão logo esta tenha produzido a capacidade de fazê-la surgir. A gnosiosfera será o lugar do acoplamento e da interação dos seres vivos em sociedades organizadas estruturadas.

A revolução noética (do grego noos, espírito, inteligência, conhecimento) exprime essa passagem, esse salto, essa ponte entre a sociosfera e a noosfera.

Embora haja o otimismo de um parto para o futuro, não devemos excluir um cenário catastrófico: a humanidade do século XX mostrou que podia ser suicida (bombas atômicas e ecológicas) e cultivar forças de Tânatos (nazismo, comunismo, nacionalismo, racismo, integrismo, colonialismo, imperialismo, mercantilismo).

O método cartesiano, tão central para o racionalismo, o cientificismo e o progressivo antigos, deve ser completado e superado por novos métodos sistêmicos, capazes de assumir o holismo, o indeterminismo e o evolucionismo próprios dos sistemas complexos.

Uma nova ética está se delineando, em que os deveres se sobrepõem aos direitos, em que os direitos se subordinam à realização, em que o humanismo moderno deve ser superado em um super-humanismo pós-moderno e nietzschiano.

A atual sociedade de consumo deve ceder lugar ao princípio da frugalidade. É viver consumindo de maneira frugal, isto é, o mínimo e o melhor possível.

Entrar na era noética é, em primeiro lugar, sair da era "moderna" da sociosfera.

A economia clássica baseava-se nas noções de raridade e de penúria: um objeto me pertence ou não, e seu valor depende de quanto ele é raro. A economia das ideias é completamente diferente. A ideia não pertence a ninguém, e o fato de compartilhá-la não prejudica quem a detém. Ao contrário, a ideia ganha mais valor à medida que se torna norma, ou seja, quando é mais partilhada, e é mais rapidamente partilhada por proliferação quanto mais barata é.

Na era noética, o político se assemelhará a um conjunto de serviços pagos (pelos impostos), que contrataremos de livre e espontânea vontade e que garantirão a infraestrutura e o clima adequados ao desenvolvimento da noosfera.

Introdução 

Há três maneiras clássicas de considerar o tempo que passa: tempo imóvel, tempo cíclico e tempo orientado.

Há, portanto, três maneiras de encarar nossa época e suas rupturas:

tais rupturas são só aparentes, o essencial permanece imutável;

tais rupturas são cíclicas e logo tudo voltará ao seu devido lugar;

tais rupturas são, todas elas, sinais de uma passagem, de um salto, da ultrapassagem irreversível de um limiar.

Este livro foi construído com base no tempo orientado.

Um salto que não era possível enquanto as tecnologias humanas não permitiam juntar enormes quantidades de informações e enorme velocidade e em suportes extremamente leves, quase desmaterializadas.

O homem noético não nem de direita nem de esquerda, ele é para frente.

Acabou-se aquele homem, que é ainda o de hoje. O homem que acumulava objetos cederá o lugar ao que cria conhecimentos. A nova riqueza será cognitiva e cultural, imaginativa e artista: o capital essencial de amanhã será o talento, a inteligência, a memória, a intuição, a imaginação.

Primeira Parte — As duas fontes da revolução noética 

As duas ideias centrais são o evolucionismo cósmico (a teoria do big bang, deduzida pelo cônego Lemaître a partir da teoria da relatividade geral de Albert Einstein) e a complexidade (ou seja, a irredutibilidade do real à justaposição de "tijolos" elementares, submetidos a leis universais e fixas de interação recíproca).

A combinação do evolucionismo cósmico e da complexidade dá origem à revolução noética, objeto deste livro.

Segunda Parte — A noosfera

A palavra "noosfera" foi criada por Pierre Teilhard de Chardin.

Sua visão de mundo ajusta-se bem à metáfora da cebola. Cada camada de organização da matéria gera uma camada superior, que envolve, e essa geração, de camada em camada, permite que a escala da complexidade seja galgada em saltos sucessivos.

A noosfera é a última dessas camadas até o presente momento: é a do conhecimento, das ideias, do pensamento, do espírito. O homem é o portador e o artesão da noosfera em nossa boa e velha Terra, e o caso — e a responsabilidade — não é simples.

A matéria gerou a vida e a vida começou a gerar o pensamento.

Se a era "moderna", que está terminando, foi uma era de orgulho e vaidade, a era noética, que está começando, será a era da modéstia e do respeito.

Os únicos grandes feitos do século XX foram a penicilina, a pílula anticoncepcional, maio de 1968 e, sobretudo, a invenção do computador.

Terceira Parte — A revolução no ética

A revolução noética, no fundo, nada mais é do que a passagem, o salto, a ponte entre a sociosfera humana e a noosfera terrestre. Passagem possibilitada enfim pelo surgimento súbito e explosivo das tecnologias da informação e da comunicação (TIC).

A vida segue e seguirá seu caminho, com ou sem o homem. Se ele aceitar o desafio noético, permanecerá na corrida cósmica. Se recusar, será excluído, ficará no cais e desaparecerá. Toda aposta humana está aí.