19 fevereiro 2015

Erudito: Fichte e Rousseau

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Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) foi professor de filosofia na Alemanha que, em 1810, tornou-se reitor da Academia de Berlin. Fiche desenvolve uma filosofia que exalta a liberdade, cujos pressupostos iniciais encontram-se na filosofia de Kant. Para ele, a liberdade do eu opõe-se à resistência do não eu, que é o exterior e na qual o eu deve lutar para manifestar-se com liberdade. Para tal fim, só o consegue lutando tenazmente contra os obstáculos e as forças exteriores que tentam dilapidar a estrutura interior.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um filósofo francês que ficou famoso pelas obras "O Contrato Social" e "Emílio ou Da Educação". Em função de sua vida errante, elabora um pensamento que retrocede à vida natural. Simplifica o seu pensamento nos seguintes termos: "o homem é bom, e a sociedade o corrompe". Abomina a razão e flerta com o sentimento. Daí, os desvios do seu pensamento, pois o único critério que aplica se encontra em suas próprias convicções e certezas pessoais.

Fichte, na quinta preleção de "O Destino do Erudito", faz uma crítica ao pensamento de Rousseau, aludindo que este se concentrou apenas no sentimento, deixando a razão em segundo plano. É uma espécie de exemplo aos seus argumentos elaborados nas preleções anteriores, onde discutiu sobre a destinação do homem em si, a destinação do homem na sociedade, a diversidade das categorias na sociedade e a destinação do erudito, o mais apto a aproveitar os avanços da cultura.

Na sua opinião, Rousseau faz um trajeto inverso, ou seja, quer ir da cultura ao estado da natureza. Rousseau procede desta maneira porque confiou demasiadamente no sentimento. O sentimento é bom, mas deve ser domado pela razão. Rousseau esqueceu do princípio fundamental da cultura: dar e receber. Dar o que conseguimos amealhar em conhecimento; receber dos outros o que nos falta. Em o "Emílio ou Da Educação", relega a figura do professor a um segundo plano. Ela não precisa de um mestre para conduzi-la pelo trabalho, pelo esforço, pela disciplina.

Salientemos, aqui, a relação entre liberdade, perfeição e aperfeiçoamento. O fim do ser humano é buscar a potencialização de seu ser. O erudito tem um dever: retribuir ao próximo o que a cultura lhe forneceu. Não o consegue fazer sem a liberdade (em si e em relação aos outros) quando busca a perfeição que é inalcançável, mas pelo aperfeiçoamento que o eleva sempre acima. Este trabalho, segundo Fichte, não pode ser feito voltando ao estado natural. É preciso ir sempre para frente e enfrentar os problemas que o progresso nos reserva.

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Fonte de Consulta

FICHTE, Johann Gottlieb. O Destino do Erudito. Tradução de Ricardo Barbosa. São Paulo: Hedra, 2014.

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Estado natural. Em Filosofia, a fórmula que se opõe a estado civil designa a situação fictícia do homem antes do surgimento da sociedade, e é então utilizada como ferramenta crítica por certos filósofos (Hobbes, Locke, Rousseau), que se apresentam com censores da sociedade moderna.




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