Ivan Domingues, em seu livro "O Continente e a Ilha", faz uma
comparação entre a filosofia do Continente (franco-alemão), mais teórica, e a
filosofia da Ilha (anglo-saxão), mais pragmática.
Caracterizando, sob a lente de Luc Ferry e em tom de piada, as
diferenças de postura de escolas diferentes a respeito do camelo, temos: um
francês, um inglês e um alemão receberam a incumbência de fazer um estudo sobre
o camelo.
O inglês, pragmático e empirista, vai ao campo (norte da
África no caso), põe-se a observar o camelo dias e dias e no fim relata o que
observou num paper de quinze ou vinte páginas sobre
os hábitos do camelo.
O francês foi ao Jardim Botânico, lá passou meia hora,
fez perguntas ao guarda, jogou pão para o camelo, cutucou o bicho com a ponta
do guarda-chuva e, de volta à casa, escreveu para seu jornal um folhetim cheio
de piadas e ditos picantes.
O alemão, com grande desprezo da frivolidade do francês e da
falta de ideias gerais do inglês, fechou-se em seu quarto para redigir uma obra
em vários volumes intitulada: Ideia do camelo tirado do conceito de eu.
Na conclusão de seu livro, temos:
Tradição continental: a história da filosofia é capaz de dar o contexto
dos problemas, fornecendo os meios para o estudioso adquirir a familiaridade,
afastando as ilusões da originalidade e preparando a mente para realizar as
verdadeiras descobertas e reconhecer as intuições seminais.
Risco: servilismo, erudição livresca e morte do pensamento.
Tradição anglo-americana: coragem do pensamento, verificada na
decisão de fazer tábula rasa da história e pensar os problemas simplesmente
aplicando a lógica nos experimentos mentais.
Risco: acreditar que descobriu a América quando apenas criou mais um puzzle,
a filosofa torna-se um jogo de xadrez intelectual e os pensamentos, em vez de
higienizar, leva ao seu atrofiamento.
Fonte de Consulta
DOMINGUES, Ivan. O Continente a a Ilha: Duas Vias da
Filosofia Contemporânea. São Paulo: Loyola, 2009. (Leituras Filosóficas).
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