18 fevereiro 2013

Tempo: Notas sobre Livro

Ao lermos o livro "Dez Considerações sobre o Tempo", registramos algumas notas. 

CAPÍTULO 1 — O Tempo — O Próprio do Homem

“O tempo não é uma questão que se possa resolver de uma vez por todas. Dura a vida toda”.

Todas as tentativas que fazemos para nos afastarmos do “tempo é dinheiro” são bem-vindas. Por quê? O objetivo das novas tecnologias é “economizar” tempo: observe os modernos computadores, sempre com mais velocidade e mais capacidade de armazenamento de dados. O problema é que, ao nos rodearmos dessas técnicas, nós nos condenamos a não sermos mais donos do nosso tempo.

É possível “parar o tempo”, ou seja, ficarmos alguns momentos sem fazer nada? Ao tentarmos, o que nos sucede? Geralmente, assomam-nos o pânico e a angústia. Observe as pessoas que têm muitos compromissos. Como elas poderiam se separar dos afazeres ali marcados? Não é tarefa fácil. E o que dizer das crianças que têm a uma agenda mais cheia do que os próprios adultos? Aonde vamos? O esforço de "parar o tempo" pode, contudo, nos conceder mais tempo livre no futuro. 

Às vezes, reclamamos dos acontecimentos menos felizes. Indagamos: eles são justos? Numa rápida lembrança do passado, são eles que nos veem à mente, como uma forma de aprendizado, como uma forma de vermos a suplantação de um problema, de uma dificuldade, de uma inimizade. Aí pensamos: como, naquela ocasião, eu tive o sangue frio para não ir além, para não agravar ainda mais um relacionamento deteriorado?

O tempo é o único capital que temos. Por isso, tal qual o dinheiro, façamos com que ela seja nosso aliado e não o nosso mordomo. 

CAPÍTULO 2 — O Tempo dos Relógios e o Tempo Vivido

O tempo pode ser visto sob dois pontos de vista diferentes: o tempo dos relógios e o tempo vivido. O tempo dos relógios é o tempo atômico, para se falar com mais propriedade.  O tempo vivido é o tempo pessoal, o tempo subjetivo. Poder-se-ia perguntar: “Quanto tempo dura um quarto de hora?” “Quantos instantes há em um momento?” Olhando o relógio, não teríamos dúvida. E do ponto de vista pessoal? Temos uma exata medida do tempo?

“É quase certo que se, por acaso, você tiver uma ideia inteiramente nova, alguém, em algum lugar, pensará exatamente na mesma coisa, no mesmo momento”. Daí, afirma-se que “o tempo pensa”. A frase acima vem corroborar com a Doutrina Espírita quando esta afirma que a influência dos Espíritos sobre nosso pensamento é muito mais intensa do que podemos imaginar.  

Em 1990, o filósofo alemão Peter Heintel fundou a Tempus, Verein zur Verzögerung der Zeit (Associação para a Desaceleração do Tempo). A partir daí, a Tempus passou a organizar, todos os anos, conferências sobre o tempo. Os membros, pertencentes a vários países do mundo, são convidados a apresentar exemplos sobre a maneira como se relacionam com o tempo. Fazem-no por intermédio de textos, imagens e fitas de vídeo.  Para a Tempus, Chronos é o tempo dos relógios; Kairos, o tempo vivido.

O problema fundamental é: como o tempo dos relógios se relaciona com o tempo vivido? Eles têm a mesma duração? Não. Por quê? Porque estamos constantemente correndo atrás do tempo dos relógios, tentando a todo custo maximizá-lo. Os nossos anseios interiores, no entanto são outros. E estes são os mais importantes, porque dizem respeito ao nosso projeto de vida, as nossas preocupações de progresso moral e espiritual que, na maioria das vezes, vai na contramão da técnica e da economia do tempo.

Como, no entanto, melhorar a produtividade do tempo vivido? É através da desaceleração do tempo, de fazê-lo parar para que possamos meditar sobre a profundidade de nossa existência, de nossa missão aqui neste Planeta. 

CAPÍTULO 3 — Tempo de Parada

“Para se concentrar, é preciso não ser perturbado — inclusive por si mesmo.”

Tempo de parada é o intervalo de tempo em que deixamos de lado os nossos afazeres cotidianos para podermos refletir e meditar. Não é muito fácil: telefonemas, visitas, conversas e responsabilidades podem dificultar tal empreendimento. O tempo de parada assemelha-se à higiene mental, uma mudança de atividade, para que depois, possamos retornar ao trabalho com mais criatividade e entusiasmo.  

A função precípua do tempo de parada é propiciar-nos a reorganização do pensamento. Há uma série de automatismos (tudo o que fazemos parece tão natural) em nossos atos diários que, sem uma devida análise, passariam totalmente despercebidos.  Com o tempo de parada, podemos questionar se aqueles atos são realmente necessários. O tempo de parada é sumamente importante para os trabalhos de grande fôlego. Depois de uma pausa, retomamos as atividades com mais vigor e mais intensidade.

O problema que se apresenta: o tempo de parada é visto e sentido como improdutivo. É que os trabalhos longos requerem grande empreitada, a qual exige a disposição de focar um único tema, uma única meta. Nesse caso, temos que renunciar às atividades mais fáceis, aquelas que consomem mais tempo, porque não o vemos passar. Para as tarefas difíceis, há necessidade de alocar mais tempo. Além disso, há que se enfrentar, também, o preconceito e a incompreensão de nossos amigos e familiares.

A avalanche de informações e relacionamentos que a internet nos proporciona está roubando o nosso tempo livre, principalmente dos jovens que pertencem à geração Z. Estes já nascem conectados ao mundo digital. É sobre eles que devemos envidar nossos esforços, para se tornem pensólogos, e não simples usufrutuários das informações veiculadas na rede internacional de computadores. É uma missão que os mais velhos devem tomar para si se se pretende que o amanhã seja mais promissor do que os dias presentes.

Reservemos um tempo para a organização e a reorganização do nosso pensamento. Talvez não percebamos de pronto, mas no longo prazo recolheremos os frutos dessa virtude.

CAPÍTULO 4 — Tempo Inteiro e Tempo Dividido

"A variação, e não a repetição, é a mãe de todo aprendizado." 

Para muitas pessoas, o tempo dividido é necessário, porém é o tempo inteiro que dá substância à nossa vida. Para tanto, deveríamos fazer com o tempo o que se faz na agricultura, ou seja, o reagrupamento, reagrupamento de tarefas, de trabalhos, etc. O tempo inteiro não se mede pelas horas do relógio. 

A vantagem de se pensar no tempo inteiro é que ele nos permite ver a vida na sua máxima extensão. É como o sujeito que mergulha na prece e parece transportado para outro mundo, um mundo de paz, de harmonia interior, que nem mesmo o estouro de uma bomba ao lado, tira-o do foco de sua atenção. 

Diz-se que "a repetição é mãe de todo aprendizado". Isso não é inteiramente verdadeiro. Melhor seria dizer que a variação é a mãe de todo aprendizado. É que no decorrer do tempo, vamos nos inteirando de outras maneiras de ver o mesmo problema. 

CAPÍTULO 5 — TTT — Pensar Toma Tempo

industrialismo criou a necessidade de sentir que se tem necessidade de nós. Produzimos porque alguém precisa daquela mercadoria. Com isso, o termo “trabalho” assumiu importância capital, sendo o condutor de nossas vidas, pois é da sua recompensa (salários) que sustentamos a nossa vida. Daí acreditar-se que "nada atrasa tanto o futuro como uma velha infraestrutura de pensamento". O pensamento pode se atrofiar.

Criar, visualizar e ter ideias tomam tempo. Como, porém, pensar com liberdade e criatividade do espírito, se o industrialismo rouba o nosso tempo? Para que uma ideia se aclimate em nosso interior, ela precisa de tempo de reflexão, de ponderação. E isso toma tempo. 

Observe o tempo que nos é roubado em telefonemas, conversas sem proveito, fins de semana com pessoas desocupadas. Como esperar um futuro promissor se o nosso pensamento vive no passado? Um estudo acurado da importância do tempo muito nos auxilia. Para tanto, precisamos saber dizer não a tudo o que não faz parte de nosso projeto de vida

Não nos deixemos conduzir pelos outros, mas façamos aquilo que for bom para nós, para o nosso crescimento moral, intelectual e espiritual. 

CAPÍTULO 6 — Proximidade e Presença

"A proximidade e a presença produzem um meio ambiente criativo"

No estudo do tempo, surge a questão da proximidade e da presença, muitas vezes confundidas, em virtude do sentimento latente de que estamos sempre próximos daquilo que presenciamos. Mas há muitos casos em que permanecemos próximos de alguém, mesmo estando muito longe, geograficamente, como de um país para outro. 

A rede na qual a criança se vê inserida é muito reduzida. Conforme cresce esta se amplia. Hoje, por exemplo, com a expansão da Internet, há maior conectividade entre as pessoas. 

Bertrand Russel, em suas Memórias, fala daquilo que, segundo ele, faz com que a vida valha a pena ser vivida

- a procura do saber

- a busca do amor

- a empatia com aqueles que sofrem.

CAPÍTULO 7 — Marcha da Mudança e Percepção do Tempo

O ser humano tem uma capacidade extraordinária de se adaptar rapidamente ao fuso horário. 

Corremos tanto atrás do tempo por causa do industrialismo, que faz do tempo um tempo artificial: o homem precisa sentir que as pessoas têm necessidade dele. 

Na era dos sem-número de canais de televisão, não seria interessante criar um canal para os teléfobos, em que naquele dito canal não haveria propaganda. Essa rede anunciaria orgulhosamente: "Aqui não há publicidade. Se tivéssemos publicidade, este programa duraria no mínimo uma hora. Aqui, nada de chamadas de programa, nada de filmetes de anúncios que arrasam com o humor e com o ambiente."

A disparada do desenvolvimento dos conhecimentos é um mal ou um bem? Quais seriam os remédios para impedir que as funções exponenciais da técnica tenham um sentido de opressão sobre a humanidade? 






CAPÍTULO 8 — Ritmo e Arritmia 

Há grande diferença entre o ritmo do pensamento e o ritmo da conversa. Enquanto a conversa parece morna, o pensamento pode estar a mil. Em se tratando do ritmo, surge uma grande alegria quando encontramos alguém no mesmo ritmo do nosso pensamento. 

Embora encontrar ritmos semelhantes nos traga alegria, "não é a semelhança de ritmos que une as pessoas, mas a cultura, a religião, os interesses comuns, sem esquecer as circunstâncias".  

Alguns tipos de ritmos: ritmos ao ar livre, ritmos da infância, ritmos da idade adulta, ritmos da água, ritmos do tráfego, ritmos da pausa...

A arritmia das reuniões. Questão: há pessoas que se dão bem com o ritmo das reuniões? Ou será que essas pessoas têm uma sensibilidade menos suscetível e, portanto, uma tolerância maior à arritmia? 

CAPÍTULO 9 — Pensar para a frente, pensar ao contrário 

Pode-se responder de duas maneiras a pergunta: por quê? Informando a causa ou revelando a intenção. Causa relaciona-se com o passado; intenção, com o futuro. 

O ensino deve olhar para frente, mas no concentramos nos conhecimentos prévios.

Nosso pensamento deveria ser teleológico e não mecanicista. Teleológico é o que vê para frente; o mecanicista quer explicar as causas. Observe a resposta grega à pergunta de uma criancinha: "Por que há um bolota aqui?" "Há uma bolota para que possa nascer um carvalho". Os gregos usavam um modelo explicativo teleológico, aquele que afirma a finalidade do mundo. 

Pensar para a frente consiste em ter visões, representações interiores sobre o modo como as coisas podem acontecer. 

Uma forma de facilitar o processo de aprendizado é pensar como um retrovisor. Pensa-se que o projeto esteja concluído daqui a 5 anos. Tendo-o como construído, volta-se para a época presente, pois pensar no passado é mais fácil do que ir para a frente. 

CAPÍTULO 10 — Por que há tão poucos caniches?

Por que é importante permitir que novas ideias influenciem a nossa representação do mundo? 

Façamos uma lista de como podemos usar o tempo: dormir, beber, comer, chorar, extasiar, meditar...

Papagaio simboliza tudo aquilo que somos obrigados a imitar em torno de nós: um emprego do tempo sobrecarregado, um tempo dividido, um telefone que não para de tocar, um sentimento crescente de falta de adaptação e de insuficiência. 

Camaleões: tempo de parada e o tempo inteiro são permitidos.

Caniche*: tentar achar o que há nos bastidores, atingir os sonhos interiores, ultrapassar todas as aparências. Se é pequeno o número de caniches, é porque é difícil libertar-se, agir diferente de todo o mundo, é difícil chegar a pensar uma coisa autenticamente nova.

*Raça de cachorros, por assim dizer, ornamentais, descendente do cachorro-d'água (ou, em francês, barbet). Há duas variedades de caniche: o de farto pelo lanudo encaracolado e o de pelo encordado (enrolado com corda). Em cada uma dessas variedades, o caniche pode ser classificado pelo tamanho em caniche anão, médio e grande. A pelagem é unicolorida: branco, marrom ou preta. Trata-se de um cachorro extremamente inteligente, muito devotado ao dono e de fidelidade proverbial. Para que o leitor brasileiro possa visualizá-lo melhor, deve-se dizer que a raça caniche é parenta próxima do poodle (coisa como prima-irmã, talvez), pois o poodle é bem mais comum no Brasil e parecidíssimo com o caniche. (N. do T.)

JÖNSON, Bodil. Dez Considerações sobre o Tempo. Tradução de Marcos de Castro. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.