14 março 2012

Ressentimento: Nietzsche e Scheler

Ressentimento. Ato ou efeito de ressentir-se. Diz respeito ao sujeito que está magoado, aquele que se melindra com facilidade ou que sofreu os efeitos de abalo, dano ou moléstia. Em espanhol a palavra correspondente é remordimiento e define-se como a amarga e arraigada lembrança de uma injúria particular, da qual se deseja tirar satisfações. Pode-se dizer que seu sinônimo é a palavra rancor, palavra esta que vem do latim e que quer dizer queixa, querela, demanda. Já em francês, ressentiment traz em sua etimologia a repetição de uma vivência cuja qualidade da emoção é hostil.

Nietzsche e Scheler dizem que o ressentimento é o principal obstáculo ao amar ao próximo como a si mesmo. Embora haja problemas da tradução do alemão para o português, percebemos que esta palavra assume vários significados, tais como, rancor, repugnância, acrimônia, má vontade, contrariedade, despeito e nocividade. Embora usem o mesmo termo, referem-se a tipos diferentes de hostilidade.

Para Nietzsche, ressentimento é aquilo que o abatido, o desprovido e o pobre sentem pelos seus “superiores”, os ricos. Pode-se dizer que a causa mais profunda está na “dissonância cognitiva”, em que as pessoas buscam uma sensação de equilíbrio entre suas crenças, atitudes e comportamentos. Exemplificando: reconhecer os direitos de seus “superiores” seria equivalente a aceitar a sua própria inferioridade. O ressentimento é uma mistura de genuflexão e acrimônia, mas também de inveja e despeito.

Max Scheler, ao contrário de Nietzsche, acha que o ressentimento surge entre os iguais. Nietzsche interpreta o ressentimento como uma luta contra a desigualdade e uma pressão para se nivelarem por baixo as hierarquias existentes; Scheler, por seu turno, acha que as pessoas lutam para chegar ao topo e atirar os outros para baixo. As pessoas partem do seguinte princípio: “Minha liberdade é limitar a liberdade dos outros que desejam chegar ao mesmo ponto”. Scheller conclui que ressentimento resulta em competição, numa luta contínua pela redistribuição de poder e prestígio, reverência social e dignidade socialmente reconhecida.

Saibamos sacrificar tudo, inclusive o sentimento do ressentimento, pois ele é um grande empecilho para a nossa evolução moral e intelectual.

Fonte de Consulta

BAUMAN, Zygmunt. A Ética é Possível num Mundo de Consumidores? Tradução de Alexandre Werneck. Rio de Janeiro: Zahar, 2011, capítulo 1.