Qual o limite para pôr fim ao incômodo
alheio? Pergunta de difícil resposta. Jesus, por exemplo, recomenda-nos perdoar
não sete, mas setenta vezes sete vezes. Perdoar sempre não seria uma espécie de
fraqueza? Por quê, para agradar aos outros, temos que contrariar os anseios de
nossa própria consciência? Em se tratando de uma vida religiosa, “é preferível
ter todo mundo contrário a ter Jesus ofendido”.
Observe a ingerência dos outros em
nossa vida. Há pessoas que se julgam donas do mundo, mandando e desmandando sem
o menor pudor. Suponha, por um momento, que estejamos diante de uma dessas
pessoas: ela vem até a nossa casa (para ajudar em algum serviço ou simplesmente
para passar alguns dias conosco. A partir daí, mudam os objetos de lugar,
ordenam o que devemos ou não devemos fazer, e assim vão indo.
Diante deste fato, pensamos:
"Deixa para lá; é por pouco tempo; ela só ficará uma semana ou, no máximo,
quinze dias; logo vai embora e as coisas voltam à rotina. Eu não vou arrumar
confusão, inimizade ou coisa que o valha." Há, porém, uma controvérsia a
esse pensamento de acomodação: “O hábito de tudo tolerar pode ser fonte de
inúmeros erros e perigos”, pois estamos vendo o nosso irmão cometer o erro e
nada fazemos, não o chamamos à atenção.
Lembremo-nos de alguns pensamentos
sobre a verdade: 1) “Aquele que sabe e cala-se é como o avarento que amealha
tesouros”; 2) “Diz a verdade, mesmo que ela esteja contra ti”. (Alcorão); 3)
“As palavras verdadeiras não são agradáveis e as agradáveis não são
verdadeiras”. (Lao-Tsé); 4) “A verdade nunca é injusta; pode magoar, mas não
deixa ferida”. (Eduardo Girão); 5) “Prefiro incomodar com a verdade do que
agradar com adulações”. (Lúcio Anneo Sêneca, moralista e filósofo latino).
Em vista de nossa responsabilidade para
com o nosso progresso e o alheio, saibamos tolerar os incômodos dos nossos
semelhantes, mas rejeitemos todos os nossos atos de conivência com o erro.
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