Em 5 de dezembro de 1783, é publicado o artigo de
Kant intitulado: Resposta à Pergunta: Que é Esclarecimento? “Esclarecimento é a
saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é
a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro
indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se
encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de
servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem
coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento”.
Kant (1724-1804) vivenciou a época do iluminismo, o
século da luzes, em que tudo era posto sob a crítica da razão, inclusive a fé.
Enquanto a Idade Média era considerada a época das sombras, pois impedia o
livre-pensar, o iluminismo é a libertação do ser humano. Quer-se questionar
tudo, desde o poderio econômico e político até as injunções da religião na vida
de cada ser humano. Ao lado de outros pensadores, tais como Descartes, Kant deu
a sua contribuição para a expansão das luzes do pensamento. Por isso, o sapere aude, ou seja, ouse pensar, pense por você mesmo.
Em suas prédicas,
Kant separa o uso privado e o uso público da razão. O uso privado diz respeito
à obediência que decorre do exercício de determinadas funções. Cita o exemplo
do soldado, que mesmo discordando (uso público da razão) do seu chefe, deve
obedecê-lo (uso privado da razão). Outro caso é o pagamento de impostos.
Podemos discordar (uso público da razão), mas devemos pagá-los (uso privado da
razão)
O princípio da razão
é pensar por si mesmo. Não é, contudo, fazer revolução ou o que se bem
entender. Pensar por si é usar incondicionalmente a razão. Quando agimos dessa
forma, acabamos discordando de muitos procedimentos em sociedade, pois a
maioria deles é fruto do condicionamento em que fomos inseridos, quer pela
mídia quer pelos usos e costumes, absorvidos ao longo do tempo.
O sapere aude kantiano
não é nenhuma novidade. Sócrates, na antiguidade, já nos instruía sobre o
“conhece-te a ti mesmo”. De qualquer forma, a sua lembrança faz-nos refletir
sobre a essência do conhecimento, que deve ser construído por cada ser humano,
segundo os seus próprios interesses e necessidades. Daí, andar nos trilhos
traçados por outrem é trabalho fácil, mas trilhar o próprio caminho é tarefa
mais árdua, pois implica contrariar opiniões e preconceitos.
Colocar no papel o
que se viu, leu ou escutou é muito útil ao nosso crescimento moral e
intelectual. É não dar trégua à preguiça mental, pois já foi comprovado que
quanto menos usarmos o cérebro, mais ele se atrofia. Assemelha-se à
passagem evangélica em que Jesus diz: “Ao que muito foi dado, muito será
exigido, mas mais lhe será acrescentado”. Quer dizer, atividade chama
atividade, pensamento atrai pensamento. O desânimo e a indolência entram na alma,
porque não foram combatidos desde o início.
As circunstâncias
podem exigir o uso da razão privada. Não tenhamos receio de colocá-la em
prática. Contudo, em cada uma dessas ações, reflitamos também sobre o uso da
razão pública, que é a prática da razão incondicional.
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