As ciências sociais, para bem
compreender os fenômenos que estudam, devem sair ou ultrapassar o nível de
experiência ingênua: o irracional ou o que se apresenta como irracional deve
ser transformado em racional.
Para os etnógrafos – que
observam e registram as características morfológicas de um grupo étnico ou de
uma sociedade viva –, uma sociedade desprovida de qualquer ritual seria uma
anomalia. Acham que há sempre uma explicação para aquele gesto ou aquele modo
de ser, embora o homem moderno nada veja.
Então, se o homem moderno,
seja qual for a sua posição filosófica, julga extravagantes os ritos de seus
semelhantes menos evoluídos, os etnógrafos e os antropólogos tentam perceber o
que há de lógico no que parece ilógico. Nesse sentido, o rito é um terreno
muito mais privilegiado do que o próprio mito, porque os gestos, o vestuário e
outros tipos de manifestações podem ser observados in
loco,
enquanto o mito fica apenas no campo da teoria.
Mas o que é o rito? O rito é um conjunto de
atividades organizadas e institucionalizadas, no qual as pessoas se expressam
por meio de gestos, símbolos, linguagem e comportamento, transmitindo um
sentido coerente ao ritual. É um ato que pode ser individual ou coletivo, mas
que sempre, mesmo quando é bastante flexível para comportar uma margem de
improvisação, permanece fiel a certas regras que constituem precisamente o que
há nele de ritual.
A palavra latina ritus designava, aliás, não
só as cerimônias ligadas às crenças relativas ao sobrenatural, como os simples
hábitos sociais, os usos e os costumes (ritus
moresque),
isto é, à maneira de agir reproduzida como certa invariabilidade. O fim dos
verdadeiros ritos é tanto o de afastar as impurezas como o de manejar a força
mágica ou ainda de pôr o homem em contato com um princípio que o transcende.
Há grande diferença entre
rito e ritual. O rito é associado ao mito, enquanto ritual diz respeito a quase
tudo que fazemos. Nesse caso, o médico procede a um ritual para fazer a sua
operação. O uso deste ou daquele vestuário, deste ou daquele gesto não pode ser
considerado ritual. Pode ser apenas um costume, uma maneira de ser e de agir.
Para enquadrar-se como rito, deve pertencer a um contexto específico,
principalmente o religioso.
O mito, o rito e os rituais
parecem-nos irracionais. Não importa. Procuremos estudá-los, meditando em sua
pureza original. Quem sabe não podemos descobrir, por nós mesmos, a simbologia
que eles representam?
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