A filosofia difere da ciência. A ciência preocupa-se com os
dados da realidade física; a filosofia, com o todo da vida. Em se tratando do
corpo humano, a ciência se interessa pelas explicações do funcionamento do
coração, do pulmão, do rim, do cérebro. A filosofia, pelo seu turno, vê o corpo
como um instrumento do espírito. É por intermédio dele que o espírito se faz
sentir, pensar, confabular.
A
filosofia é uma busca desinteressada do saber. É,
também, a tensão pela reforma do caráter, pela correção do intelecto. Não diz
respeito somente à invenção de um sistema filosófico, mas essencialmente à
reformulação da atitude e do comportamento. Não é tarefa fácil mudarmos a nossa
conduta, porque os nossos hábitos foram, ao longo do tempo, automatizados em
nosso subconsciente. De qualquer maneira, sempre é tempo de verificarmos a
nossa reação frente à conduta dos outros e a reação deles frente à nossa.
A
filosofia é uma busca da serenidade do espírito.
Serenidade não significa inação, mas um trabalho árduo na construção do saber.
Para tanto, deveríamos renunciar à tagarelice e ao desejo de sermos
importantes. É muito mais produtivo, para a nossa formação moral e intelectual,
aplicarmos os nossos recursos pessoais no aperfeiçoamento de nossa
personalidade e do nosso caráter. O que ganhamos rendendo culto às
celebridades? Por quê buscarmos o mundo todo e perdermos a nossa alma?
A
mudança de comportamento não é questão de forma, mas de fundo. Precisamos
penetrar na sua essência. A observação de um terceiro pode nos levantar ou nos
rebaixar. Depende do fluxo energético do seu discurso. Para a formação de nosso
caráter, é útil, vez ou outra, refletirmos sobre o tipo de reação que estamos
passando ao próximo. Como os outros se sentem ao meu lado? Expando otimismo ou
pessimismo? Por que este se desvia de mim? Por que aquele me despreza?
Tudo,
antes de se transformar em ato, teve de passar pelo pensamento. A nossa ação
deve estar em conformidade com o nosso modo de ser, de pensar. Nada nos ocorre
por acaso. Desta forma, tudo deve ser analisado em termos da lei de ação e
reação. A serenidade de nossa alma imortal requer cuidados, cuidados para não
nos deixarmos impressionar mais do que o necessário pelo pensamento alheio,
pelo noticiário, pela opinião. "Se Deus é por nós, quem será contra nós?"
O
objetivo central da filosofia é a totalidade da vida. A vida requer vivência. A
vivência plena é um exercício ininterrupto de formação de caráter.
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