De acordo com Lars Svendsen, em Filosofia do Tédio, o
conceito de tédio está associado ao conceito de significado e de transgressão.
Para explicitar a sua tese, fez um intenso trabalho de pesquisa, consultando
diversos pensadores acerca do tema. Entre eles estão: Adorno, Heidegger,
Kierkegaard, Nietzsche, Pascal, Schopenhauer e Wittgenstein.
Kierkegaard descreveu o
tédio como "a raiz de todo o mal". Rochefoucauld, referindo-se à
corte francesa, disse: "Quase sempre somos entediados por pessoas para as
quais nós mesmos somos entediantes". Para Pascal, "o homem sem Deus
está condenado à diversão". Para Nietzsche, o tédio é "a
'desagradável calma' da alma" que precede os atos criativos, e enquanto os
espíritos criativos o suportam, "natureza menores" fogem dele. No
romance Lucinde (1799), no capítulo "O Idílio do Lazer",
Friedrich Schlegel escreve: "Toda atividade vazia, agitada, não produz
qualquer coisa senão tédio — o dos outros e o nosso".
O tédio é um fenômeno
moderno. Ele surge quando não sabemos o que fazer com a passagem do tempo. Na
era pré-moderna, falava-se da acédia, um conceito sobretudo moral. O demônio do
meio-dia (daemon meridianus) é um tipo de acédia, o mais ardiloso de todos, pois ataca
o monge em pleno dia, fazendo com que tudo lhe pareça uma ilusão. O demônio o
faz detestar o lugar onde se encontra - e até a própria vida, lembrando-o dos
atrativos que tinha antes de se devotar a Deus. Segundo Evágrio, quem consegue
resistir à acédia, mediante vigor e paciência, será também capaz de resistir a
todos os outros pecados e encontrará aí a alegria.
O tédio relaciona-se com
informação e significado. Sabemos que informação e significado não são a mesma
coisa. Significado consiste em fazer uma conexão da parte com o todo; a
informação, não. Podemos encher o nosso cérebro com dados, fórmulas e as mais
variadas técnicas, mas sem significado algum para nós. Nesse caso, temos de
distinguir o essencial do acessório, a novidade, da verdade. Quantas não são as
informações que recebemos diariamente que nada tem a ver com o nosso
crescimento moral? O tédio aqui representa a perda de significado.
A transgressão, por seu
turno, é a satisfação da necessidade que só se sacia na novidade. Para fugir ao
tédio, procuramos os divertimentos, as festas, as peças teatrais, as viagens,
as discotecas, os barzinhos etc. Nada disso, porém, preenche-nos intimamente.
Incita-nos, pelo contrário, a fugirmos de nós mesmos. Contudo, com mais ou
menos tempo, o tédio volta a nos visitar, pois desprezamos a verdadeira
necessidade de nosso espírito, que é a evolução espiritual.
Renunciemos às
novidades, às diversões e ao culto às celebridades. Apliquemos os nossos
recursos pessoais na obtenção dos conhecimentos que irão conosco para o
além-túmulo.
Fonte de Consulta
SVENDSEN, Lars. Filosofia do
Tédio. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro:
Zahar, 2006.