10 outubro 2008

Correção do Intelecto

A palavra reforma é usada para nos referirmos à melhoria do ser. Ela não é a mais adequada. Observe que Espinosa utilizou o termo emendatio em seu Tratado da Reforma da Inteligência, uma obra inacabada. De acordo com Lívio Teixeira, tradutor da obra, emendatio significa não só melhoria, mas retificação, ação de restabelecer a verdade. Correção seria a melhor tradução, ou seja, “Tratado da Correção do Intelecto”.

Espinosa se coloca diante do mundo e daquilo que é motivo de cobiça dos seres humanos, quais sejam as honras, as riquezas e os prazeres. Em suas reflexões, acaba descobrindo que a procura desses bens é vão e fútil, porém muitas vezes necessária. Apela para a sua inteligência, no sentido de buscar o verdadeiro bem e a suprema felicidade. Quer criar um método, um caminho, que ele chama de “Tratado da Reforma da Inteligência”.

O caminho consiste em analisar os tipos de percepção que as pessoas têm. Segundo Espinosa, há quatro tipos, a saber: 1) percepção que temos pelo ouvir ou por algum outro sinal que designa convencionalmente; 2) percepção que se adquire pela experiência vaga; 3) percepção em que a essência de uma coisa se conclui de outra, mas não adequadamente; 4) Finalmente há uma percepção em que uma coisa é percebida só pela sua essência ou pelo conhecimento da sua causa próxima.

Para Espinosa, o verdadeiro método é o caminho, e conhecer exatamente a nossa natureza é o que nos leva à perfeição. Assim, deveríamos nos basear no conhecimento reflexivo ou na ideia da ideia. Quer dizer, deveríamos fazer um esforço para separar a ideia verdadeira das outras percepções e impedir a mente de confundir com as verdadeiras as que são falsas, fictícias ou duvidosas. Com isso, entende-se, também, que quanto mais conhecimento o sujeito absorve mais se lhe apura a sua visão de mundo, e facilita a captação de percepções mais refinadas.

Ninguém poderá chegar à mais alta sabedoria sem uma correção do intelecto. A emendatio é uma correção da inteligência. Na verdade, é fruto da nossa própria inteligência. Quanto mais conhecimento tivermos, mais se nos apresentará a ideia do ser perfeito. O nosso esforço deve se basear na obtenção de ideias claras e distintas, ideias que não sejam produzidas pelos movimentos fortuitos do corpo, mas que se produzem no pensamento. Ele disse: “A nossa felicidade ou infelicidade depende de que espécie de coisas damos o nosso amor; somente o amor das coisas eternas e infinitas nutre a alma (animus) de puro gozo".

Em síntese, busquemos a união da mente com a natureza inteira; o supremo bem é compreender a unidade e a totalidade das coisas.

Fonte de Consulta 

ESPINOSA, Baruch. Tratado da Reforma da Inteligência. Tradução de Lívio Teixeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

 

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