A palavra reforma é
usada para nos referirmos à melhoria do ser. Ela não é a mais adequada. Observe
que Espinosa utilizou o termo emendatio em seu Tratado
da Reforma da Inteligência, uma obra inacabada. De acordo com Lívio
Teixeira, tradutor da obra, emendatio significa não só
melhoria, mas retificação, ação de restabelecer a verdade. Correção seria a
melhor tradução, ou seja, “Tratado da Correção do Intelecto”.
Espinosa se coloca diante do mundo e daquilo que é motivo de
cobiça dos seres humanos, quais sejam as honras, as riquezas e os prazeres. Em
suas reflexões, acaba descobrindo que a procura desses bens é vão e fútil,
porém muitas vezes necessária. Apela para a sua inteligência, no sentido de
buscar o verdadeiro bem e a suprema felicidade. Quer criar um método, um caminho,
que ele chama de “Tratado da Reforma da Inteligência”.
O caminho consiste em analisar os tipos de percepção que as
pessoas têm. Segundo Espinosa, há quatro tipos, a saber: 1) percepção que temos
pelo ouvir ou por algum outro sinal que designa convencionalmente; 2) percepção
que se adquire pela experiência vaga; 3) percepção em que a essência de uma
coisa se conclui de outra, mas não adequadamente; 4) Finalmente há uma
percepção em que uma coisa é percebida só pela sua essência ou pelo conhecimento
da sua causa próxima.
Para Espinosa, o verdadeiro método é o caminho, e conhecer
exatamente a nossa natureza é o que nos leva à perfeição. Assim, deveríamos nos
basear no conhecimento reflexivo ou na ideia da ideia. Quer dizer, deveríamos
fazer um esforço para separar a ideia verdadeira das outras percepções e
impedir a mente de confundir com as verdadeiras as que são falsas, fictícias ou
duvidosas. Com isso, entende-se, também, que quanto mais conhecimento o sujeito
absorve mais se lhe apura a sua visão de mundo, e facilita a captação de
percepções mais refinadas.
Ninguém poderá chegar à mais alta sabedoria sem uma correção do
intelecto. A emendatio é uma correção da inteligência. Na verdade, é fruto da
nossa própria inteligência. Quanto mais conhecimento tivermos, mais se nos
apresentará a ideia do ser perfeito. O nosso esforço deve se basear na obtenção
de ideias claras e distintas, ideias que não sejam produzidas pelos movimentos
fortuitos do corpo, mas que se produzem no pensamento. Ele disse: “A nossa
felicidade ou infelicidade depende de que espécie de coisas damos o nosso amor;
somente o amor das coisas eternas e infinitas nutre a alma (animus) de puro gozo".
Em síntese, busquemos a união da mente com a natureza inteira; o supremo bem é compreender a unidade e a totalidade das coisas.
Fonte de Consulta
ESPINOSA, Baruch. Tratado da Reforma da Inteligência.
Tradução de Lívio Teixeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
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