24 setembro 2008

Os Filósofos Pré-Socráticos

Os filósofos, denominados pré-socráticos, como o próprio nome diz, foram os filósofos que viveram antes de Sócrates. Eles foram os primeiros a serem reconhecidos como filósofos, no sentido próprio da filosofia, ou seja, como resultado de uma atividade da razão humana que se defronta com a totalidade do real. Até então, os conhecimentos eram adquiridos por intermédio dos mitos. Foram eles que introduziram o comportamento humano mais acentuadamente racional. Nietzsche resumiu-os na seguinte frase: “Os outros povos nos deram santos, os gregos nos deram sábios”.

Physis é a palavra-chave para a compreensão da filosofia pré-socrática. Geralmente, traduzida por Natureza, o que não espelha o seu verdadeiro sentido. Para os antigos filósofos, a physis refere-se a tudo o que se pode imaginar: os rios, as estradas, o planeta, o tempo, o ódio, o amor. Martin Heidegger assim se expressou: “À physis pertencem o céu e a terra, a pedra e a planta, o animal e o homem, o acontecer humano como obra do homem e dos deuses, e, sobretudo, pertencem à physis os próprios deuses”.

Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Xenófanes de Cólofon, Heráclito de Éfeso, Pitágoras de Samos, Parmênides de Eléia, Zenão de Eléia, Empédocles de Agrigento, Filolau de Cróton, Anaxágoras de Clazomena, Diógenes de Apolônia, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera são os representantes da filosofia pré-socrática. Nos seus fragmentos e nas suas poesias estão todo o conteúdo filosófico. Tales de Mileto, por exemplo, trouxe-nos a ideia de a água ser a substância primeira da matéria.

A grande dificuldade, nos dias que correm, é destacar os pré-socráticos. A razão é simples: durante muitos anos eles foram esquecidos, desprezados, tidos como sofistas. E, como é do conhecimento geral, a palavra sofista tem um conteúdo pejorativo, pois se referia às pessoas que ensinavam mediante pagamento de salário. Desde que Platão os denominou de falsos filósofos, nunca mais tiveram respeito. Hoje, devido às pesquisas de alguns filósofos, começa-se a dar-lhes outra conotação, uma conotação de verdadeiros filósofos.

A busca da verdade tem este preço: é preciso cavar muita terra. Observe que para muitos pensadores, a filosofia atual nada mais é do que uma nota de rodapé de Platão. Isso, porém, não impede que se busquem novas fontes de conhecimentos. Nesse sentido, libertar a filosofia dos pré-socráticos da tutela platônico-aristotélica, nada mais é do que escutar o que diziam os próprios fragmentos, evitando-se visualizá-los através de conceitos posteriores, e que lhes roubam a sua dimensão original.

Desconfiemos das aparências. A verdade pode estar escondida no fundo das coisas. Busquemos os fragmentos desses antigos filósofos e descortinemos novas verdades para a nossa concepção de vida.

Fonte de Consulta 

BORNHEIM, Gerd A. (org.) Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1993.


03 setembro 2008

Pseudoprofundidade

A filosofia, fornecendo-nos subsídios para a verdadeira argumentação, faz-nos artífices do raciocínio correto. Com isso, desvia-nos dos sofismas e de tudo o que possa tisnar a verdade dos fatos. A pseudoprofundidade, não resta dúvida, é um desses desvios. Reflitamos um pouco sobre este assunto.

pseudoprofundidade é a utilização de técnicas — nem sempre naturais e sinceras — capazes de dominar o público. Geralmente é exercida por um guru, indivíduo cheio de insigths, que tem grande influência sobre um determinado grupo social. O setor de marketing abriga uma gama enorme deles. Depois de se tornar mundialmente famoso, passa a divulgar as suas teorias, entrelaçadas com seus próprios jargões.

Falar o “óbvio”, mas de forma pausada, palavra por palavra, é um procedimento muito utilizado por esses profissionais. Dinheiro, morte e amor são os seus temas preferidos. Exemplo: “o dinheiro serve para compras coisas”; “todos desejamos amar e ser amado”; “a morte é fim de tudo”. Ninguém contesta essas palavras, pois elas soam como verdadeiras. Quem poderá dizer que a morte não é o fim, se, depois dela, essa pessoa não existe mais? Contudo, trata-se de um slogan, uma palavra-força usada para captar a atenção e a simpatia dos ouvintes.

Nessa mesma linha de pensamento, esses gurus usam frases longas e complicadas em vez de curtas. Pense nas palavras feliz e triste. Para exprimir que uma pessoa está feliz ou triste, eles usam a seguinte frase: “orientações atitudinais positivas e negativas”. Caso esse bem-estar ou mal-estar possa ser passado para outra pessoa, eles diriam: “Orientações atitudinais positivas e negativas são altamente transferíveis de uma pessoa para outra”. Dependendo ainda do tom de voz, o impacto sobre a plateia pode ser muito maior.

Além das palavras longas e complicadas, usam também os termos “energias” e “equilíbrios”, que fornecem ao interlocutor a ilusão de profundidade. Eles podem dizer: “Antes de sair para as suas atividades diárias, aplique “energias” curadoras em volta de si mesmo”; “o seu equilíbrio depende de sua atitude mental”; “pense grande e será grande”; “querer é poder”. Quer dizer, há sempre uma técnica oratória para fisgar o ouvinte. De certa forma, assemelha-se ao reflexo condicionado de Pavlov, aplicado à propaganda, ou seja, usa a intensidade e repetição para melhor atrair.

Saibamos acatar a autoridade da verdade, esteja ela onde estiver. A busca do conhecimento tem este preço.