O ser
humano, premido pelo medo do desconhecido, foi obrigado a buscar explicações
que pudessem transformar uma desordem inicial em ordem perene. O mito foi a
primeira tentativa de interpretar os mistérios do Universo. Os mitos nada mais
são do que histórias acerca da criação: do ser humano, do mundo, da vida. Essas
narrações ocorreram num tempo "pré-humano", ou seja, num tempo em que
o ser humano ainda não existia. No entanto, o que ocorreu nesse tempo serve
para explicar o que acontecerá depois que o ser humano aparecer na Terra.
Na
Grécia antiga, berço da civilização ocidental, o nascimento do pensamento
racional coincide com o surgimento da pólis. A vida na cidade exige uma outra maneira de explicar as coisas.
Essa nova maneira de pensar as coisas recebeu o título de Filosofia. Os
filósofos, ou melhor, os amantes do saber, já não se contentavam com os relatos
sobrenaturais; eles desejaram explicações mais racionais, mais de acordo com a
razão. O logos grego queria captar as coisas tais quais eram, tais quais
se revelavam, ou seja, queriam descobrir a aletheia (verdade), que significa "revelar algo
que estava oculto".
A
transição da consciência mítica para a consciência ao nível racional não foi
instantânea. Começaram pelo estudo da physis. Physis era entendido como a totalidade do Universo e também como
uma forma permanente das coisas. Este termo abrange tudo o que existe e tudo o
que não existe. Traduz-se, geralmente, por física, mas não deve ser entendida
como a Física dos dias presentes. Em realidade, os primeiros filósofos estavam
preocupados em descobrir a origem de todas as coisas. Tales vai dizer que o
princípio de tudo é a água; Anaximandro, o infinito indeterminado, Anaxímenes,
o ar; Heráclito, o fogo; Pitágoras, o número; Empédocles, os quatro elementos:
terra, água, ar, fogo, em vez de uma substância única.
Para
melhor compreendermos o pensamento antigo, dividamo-lo em três grandes
períodos: 1) até Sócrates, em que a preocupação era com a physis, ou seja, a busca do elemento primordial do
Universo. Este período é também o período da admiração, do espanto e da
perplexidade; 2) os sistemas metafísicos de Platão e de Aristóteles, em que
estes procuravam conciliar o devir e as exigências do pensamento racional; 3) o
advento do cristianismo, em que a crença era baseada na fé. Nesse período, estabelece-se um retorno ao mito.
Religião
e filosofia entram em cena e, com elas, as discussões entre fé e razão. O
cristianismo é uma religião, revelada, que aceita a fé por meios extra-racionais. A filosofia, por outro
lado, tenta uma compreensão por vias racionais. A fé é sobrenatural; a razão,
natural. Embora de natureza distinta, razão e fé mantêm uma ligação, marcada
muitas vezes por tensões. Os primeiros Pais da Igreja, por exemplo, não se
contentaram apenas em aceitar a fé; eles queriam estudá-la à luz da razão.
A
origem da filosofia está na admiração, no espanto, na perplexidade. Saibamos
bem utilizar esses insights para uma melhor compreensão da realidade que nos envolve.
Fonte
de Consulta
TEMÁTICA BARSA. Rio de Janeiro, Barsa Planeta, 2005.