03 julho 2008

Verdadeiro Filósofo

O "verdadeiro filósofo", nos primeiros séculos de nossa era, designava aquele que se opunha ao sofista, ou seja, àquele que falava bem, mas não agia de acordo com o que dizia. Seu principal empenho não era especular ou buscar erudição, mas diminuir a distância entre aquilo que dizia e o modo como agia. Procurava também uma perfeita sintonia entre o ser o pensamento. Em outras palavras, pensava como era, falava como pensava e agia como falava.

O "verdadeiro filósofo" dava pouca importância à erudição e à especulação. Eles não estavam preocupados em criar teorias, doutrinas e sistemas filosóficos. Agiam mais como terapeutas, porque as suas prédicas tinham por objetivo a saúde de alma. A erudição e a especulação por si mesmas não visam a uma transformação do homem. Na maioria das vezes, incham-no. O verdadeiro filósofo, por sua vez, não procura transformar os outros nem mundo todo, mas transformar-se a si mesmo, um trabalho muito mais complicado, porque exige a renúncia dos prazeres mundanos.

Os Padres da Igreja são catalogados como verdadeiros filósofos. Mas o que se entende por Padres? O termo Padres, no começo de nossa era, não tinha a mesma conotação que se empresta aos padres de hoje. Eles devem ser entendidos como "Pais" da Igreja. E o pai é uma pessoa que vela pelos seus filhos. Assim, qualquer um que ensina ao outro o caminho para deus, torna-se pai e, o outro, filho. Nesse sentido, todos somos filhos desses padres. E por extensão, todos somos filhos de Jesus, porque Ele é o guia espiritual do Planeta Terra.

Há diversos Padres da Igreja. Façamos um resumo de suas contribuições. Orígenes (185-254) trata o martírio como a "verdadeira filosofia"; Clemente de Alexandria (150-215) escolhe a gnose como a "verdadeira filosofia"; Evágrio Pôntico (345-399) elege praxis e gnosis como elementos da "verdadeira filosofia"; João Crisóstomo (344-407) recomenda a contemplação e a liturgia como "verdadeira filosofia"; João Cassiano (365-435) aborda a vida monástica como refúgio dos "verdadeiros filósofos"; Gregório de Nissa (331-395) indica a "busca" sem fim do "verdadeiro filósofo".

Anotemos alguns ensinamentos desses Padres da Igreja. "O pregador deve ser não só um sábio, mas também um homem de oração" (Orígenes). "A gnose foi transmitida a um pequeno número de pessoas desde os apóstolos, através da sucessão dos mestres e sem escrituras (Clemente de Alexandria). "Bem-aventurado o intelecto que, durante a oração, torna-se imaterial e completamente despojado" (Evágrio Pôntico). "Meu sacerdócio consiste em pregar e anunciar o Evangelho" (João Crisóstomo). "A amizade é um bem tão precioso que deve ser preferido a qualquer coisa de material" (João Cassiano).

Equilibremos a admiração passiva (contemplação) e a admiração ativa (pesquisa, procura, leitura), a fim de que possamos captar totalmente a mensagem dos "verdadeiros filósofos".

Fonte de Consulta

LELOUP, Jean-Yves. Introdução aos "Verdadeiros Filósofos": os Padres Gregos: Um Continente Esquecido do Pensamento Ocidental. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

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