02 julho 2008

Solidão

solidão, segundo o dicionário, significa pessoa que vive só; isolamento. Daí surge a questão: a solidão é isolamento? Em realidade, a solidão não é fuga da sociedade; ela é uma forma de meditação e reflexão para que o ser humano possa alcançar uma nova visão de mundo. Para muitos, ela incomoda; contudo, somente ela é capaz de nos dar subsídios para uma boa convivência com os demais seres humanos.

O filósofo precisa de solidão? Sim. Segundo Novalis, "A filosofia significa, em sentido próprio, nostalgia do lar, impulso a estar, por toda parte, em casa". E, de acordo com Buzzi, "Quem deseja aprender a filosofar vai para a solidão. Solidão é tarefa e esforço de conviver com as coisas na escuta do obscuro de seu estar-aí. Um conviver desarmado, um confrontar-se com a experiência sem os recursos de qualquer conhecimento, um encontrar-se corpo a corpo. Feliz quem pode com essa solidão. Dela nascerá um novo mundo, um respeito diferente às coisas que nos cercam".

Para bem filosofar, devemos ir ao deserto e esvaziar o pensamento dos preconceitos, inclusive da própria ciência. Por que o deserto? No deserto não há muitos atrativos como os encontramos nos grandes centros urbanos. Lá não há o desejo consumista de alimentos, roupas e diversões várias. Somos, por força da natureza, obrigados a voltarmo-nos para dentro de nós mesmos. Sem a influência de qualquer pessoa, somos abandonados ao nosso próprio pensamento. Em contato com o nosso centro, refletimos mais detalhadamente sobre os nossos pontos fracos e os nossos pontos fortes. Enfim, exercitamos o preceito áureo deixado por Sócrates: "Uma vida sem exame não merece ser vivida".

A solidão propicia-nos vislumbrar um mundo totalmente diferente daquele que se nos apresenta os meios de comunicação. Entrando num estado de meditação profunda, podemos elevar os nossos pensamentos a Deus e receber Dele, ou dos Espíritos superiores, inspirações sobre a profundeza da vida, instruções sobre a conduta em sociedade e noções mais detalhadas sobre a lei do amor, da justiça e da caridade. Nesse êxtase, esquecemo-nos de nós mesmos e o nosso "eu espiritual" desprende-se momentaneamente do corpo físico e vai visitar outros mundos em que reina a paz e harmonia universal.

Nietzsche dizia que onde cessa a solidão, aí começa a feira. A feira representa o alarido dos grandes comediantes e o zunido das moscas. Filosoficamente considerada, é o estado da superficialidade do homem, que vive somente para o seu ganha-pão, útil para o sustento físico, mas que não acrescenta muito ao "eu" mais profundo. Na solidão, entretanto, o homem vai buscar a lenta experiência de todos os poços profundos. É longe da feira e da fama que se constroem os novos e verdadeiros valores morais.

Não temamos a solidão. O que, a princípio parece pesadelo, com o tempo, torna-se um refúgio para a percepção das grandes verdades, as quais serão muito úteis para o nosso desenvolvimento moral e espiritual.


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