02 julho 2008

Racionalidade Filosófica e Racionalidade Científica

A capacidade de instrumentalização do homem foi, ao longo do tempo, conferindo à Ciência o atributo de racionalidade. O positivismo de Comte mostra a influência que a epistemologia exerceu sobre a Filosofia. Neste status quo, temos de ponderar, a fim de não sermos tragados pelo encantamento das máquinas e da comprovação científica.

O conceito de "racionalidade" tem dupla significação: filosófica e científica. A racionalidade filosófica abarca a totalidade do saber, em que o pensamento insere-se numa cosmovisão do ser; a racionalidade científica possui visada restrita, ou seja, limitada aos métodos de análises conceituais e de experimentos. Kant chama a primeira de Razão e a segunda de Entendimento. O importante a ressaltar é que o Entendimento Científico depende da Razão Filosófica, e não o contrário.

O problema central da Filosofia é combater a idolatria. Somos fabricantes de falsos deuses, conferindo-lhes poderes salvíficos. Entre tais deuses, está a ciência e seus derivados, que açambarcou da filosofia toda a espécie de conhecimento. Neste sentido, chega-se ao ponto de considerar como saber verdadeiro somente aquele proveniente de uma comprovação científica. O instinto monárquico que passou da Teologia à Filosofia reside hoje na Ciência.

A teoria da escolha, elaborada por Walsh (Axiomatic Choice Theory, 1971), comporta vários axiomas, todos intuitivamente plausíveis, parecendo representar o que poderia ser chamado de comportamento racional. Nessa teoria, o indivíduo seria tratado de racional sempre que escolhesse o estado de coisas A com relação ao estado de coisas B, não se levando em conta os juízos de valor, ou seja, as finalidades da ação. Apenas demonstrando coerência de comportamento, esse indivíduo seria considerado racional. O mesmo ocorre na área científica, ficando fora de sua alçada tudo o que pertence à ordem dos fins e dos valores.

A Filosofia deve retomar o seu papel de construtora do saber. Segundo a postura filosófica, devemos duvidar dos cientistas e dos políticos, como sendo os principais detentores do conhecimento. É que, acostumados ao uso de gráficos e cômputos matemáticos, encastelam-se em suas especializações limitadas e julgam-se os únicos proclamadores da verdade.

A busca do conhecimento não é tarefa fácil. Muitas vezes a verdade encontra-se no fundo, mas nem todos têm o hábito de procurá-la com denodo e determinação.

Fonte de Consulta

JAPIASSU, H. Questões Epistemológicas. Rio de Janeiro, Imago, 1981.



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