01 julho 2008

Os Números Dominam o Mundo

Saint-Exupéry, em O Pequeno Príncipe, observa que as pessoas crescidas adoram números. Se lhes dissermos: "Eu vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, com gerânios nas janelas e pombos nos telhados...", elas não conseguem nem imaginar essa casa. É necessário dizer-lhes: — "Eu vi uma casa de cem mil francos". Então elas exclamam — "Como é bonito!". Do mesmo modo, cada um procede com os demais: ter boa voz, gostar de pássaros, amar a natureza têm pouco valor. Para a grande maioria, conhecer alguém é saber que profissão exerce e quanto ganha.

Os números evocam vida e mistério. Na Bíblia, Deus ordenou todas as coisas "segundo o número, o peso e a medida". Para Pitágoras, "Todas as coisas eram números e qualquer número era uma divindade". De acordo com Leibniz, "Enquanto Deus calcula e exerce o seu pensamento, o mundo se faz". Os escolásticos definiam a verdade como adequatio rei et intellecto, isto é, uma perfeita correspondência entre o intelecto e os objetos observados. Descartes, mais tarde, afirma: "Eu não incluo, em minha física, outros princípios que não aqueles que aceito em matemática"; e Hegel: "Nada há de real além do racional e nada há de racional além do real".

Hegel (1770-1831) sistematizou o desenvolvimento do pensamento em três tempos: TESE, ANTÍTESE E SÍNTESE. Como ilustrá-lo? Tomemos dois pontos de vista: A e B. Um ponto C se desloca de A para B. Segundo o ponto de vista A, C se afasta; segundo o ponto de vista B, C se aproxima. A e B são inconciliáveis. A verdade integral surge com o ponto de vista C, que não percebe senão um movimento único na trajetória AB. A distância AC se "dilata", a distância BC se "contrai": é a imagem de um fenômeno yin e de um fenômeno yang gerado por um princípio único.

As cartas Zener, tão popularizadas por Rhine em seus testes parapsicológicos, baseiam-se em números. As cartas são representadas pelo círculo, pelo sinal de mais, pelas ondas, pelo quadrado e pela estrela. O círculo é o número 1; o sinal de mais, o número 2; as ondas, o número três; o quadrado, o número 4; a estrela, o número 5. Como há 5 cartas de cada naipe, temos um baralho com 25 cartas. Mediante diversos testes estatísticos, pode-se comprovar se uma pessoa possui percepção extra-sensorial: clarividência, telepatia, pós e pré-cognição.

Dizem que os números não mentem, mas as pessoas podem mentir com os números. É preciso, pois, desconfiar das armadilhas da matemática. Às vezes, ouvimos no rádio ou na televisão a divulgação da taxa de crescimento do PIB, da taxa de crescimento das despesas e de outras taxas mais. Dependendo da base de cálculo para comparação, a taxa de crescimento pode ser alta ou baixa. Exemplo: pegue um PIB de crescimento expressivo e compare-o a um PIB de crescimento negativo. O resultado será muito maior do que se tivéssemos comparado dois PIBs de crescimento expressivo.

Saibamos raciocinar com os números. Que eles sejam nossos aliados, e não os nossos opositores, para a descoberta da verdade.

Fonte de Consulta

CHABOCHE, François-Xavier. Vida e Mistério dos Números. Tradução de Luiz Carlos Teixeira de Freitas. São Paulo: Hemus, s.d.p.

 

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