01 julho 2008

Nietzsche e sua Crítica da Razão e da Moral

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 1844, no vilarejo de Röecken, na Alemanha. A educação religiosa, recebida nos primeiros anos de sua vida, marcou sua filosofia. Em 1864 ingressa na faculdade de Bonn, onde é orientado para a filologia, matéria que trata de textos antigos, especialmente os gregos e os latinos. Tinha a incumbência de interpretá-los, editá-los e compreendê-los a ponto de conseguir analisar e comparar o desenvolvimento das línguas e das gramáticas. Pouco valorizado em vida, ele previu que o tempo para a sua filosofia ainda estava por chegar. Hoje, é um dos filósofos mais citados, tanto em obras literárias quanto em sala de aula. Foi influenciado pelo pensamento de Schopenhauer e pela amizade do compositor Wagner. Em 1869, torna-se professor de Filologia na Universidade de Basiléia, onde ficou até 1879. Posteriormente, passa a ser um filósofo errante, vivendo em diversos países. Em 1899, depois de ver um homem bater num cavalo, sofreu um colapso e perdeu o equilíbrio mental até a sua morte em 1900.

As publicações de Nietzsche, grande parte em forma de aforismos, são inúmeras: O Nascimento da Tragédia (1872); Considerações Extemporâneas (1873-1876); Humano, Demasiado Humano (1878-1879); Aurora (1881); A Gaia Ciência (1882-1886); Assim Falou Zaratustra (1882-1885); Para Além do Bem e do Mal (1886); Para a Genealogia da Moral (1887); O Caso Wagner, O Crepúsculo dos Ídolos, O Antricristo, Ecce Homo (1888).

A ideia fundamental de Nietzsche é a reconstrução da história da filosofia, não pela simples reconstrução, mas para extrair dela os elementos necessários para a sua análise filosófica. O que ele realmente quer é combater Platão ou o platonismo. As suas conclusões não são nada animadoras: acha que o mundo caminha para o niilismo - descrença no valor de todos os valores, de todas as crenças e da própria existência humana - em que se chega a um verdadeiro tédio. A sua intenção é derrotar este status quo.

Para ele, a teoria das formas de Platão, o racionalismo de Descartes e o pessimismo de Schopenhaeur são os elementos de sua história. Quer derrotá-los, quer repensar a harmonia dos helenos, que viveram antes de Sócrates, e cultuar o otimismo. Na harmonia dos helenos, há a contraposição de duas forças: 1) apolínea (formas); 2) dionisíaca (volição). A força apolínea diz respeito à razão; a dionisíaca, à arte, ao sentimento. Sua intenção é derrotar o mundo dominado pela razão, pois esta nos tornou tediosos.

Hoje, fala-se da legalização do aborto e do uso de células-tronco para pesquisa de terapias de doenças. A religião é contra; a ciência, a favor. Quem está certo e quem está errado? Esta é a questão formulada por Nietzsche, uma questão estritamente moral. Daí, também, perguntar o que é moral? Que é ciência? A ciência tem razão? Nietzsche percebeu que por trás dessas disputas está a compreensão do vocábulo, da linguagem. Acrescenta que, antes de buscarmos o conceito do termo proposto, devemos investigar as causas que o tornaram o centro dos debates.

Em suas análises filosóficas, critica a deusa razão, enaltecida pelos seus antecessores, especialmente Descartes com o seu "penso, logo existo". Para ele, a razão tem a sua utilidade, pois precisamos calcular, prever, fazer contas e nos relacionarmos em sociedade. A comunicação do pensamento exige uma linguagem, de preferência lógica e bem estruturada. Assim, a razão é apenas um processo, uma "faculdade" do homem, uma hipóstase: o que era mero instrumento transforma-se, com o auxílio da linguagem, em critério.

Para justificar um conceito, há sempre uma postura moral vinculada à linguagem, diz Nietzsche. Estes preceitos morais podem advir tanto da filosofia como da religião. Condena, assim, a negação do que vivemos, apregoada pela ideia cristã do "paraíso" e pela ideia platônica do "topus uranus". O conteúdo das suas críticas à moral pode ser encontrado no livro Para a Genealogia da Moral, em que procura distinguir a moral do escravo e a moral do nobre. A moral do nobre é a moral ativa; a do escravo, reativa, reage ao que os nobres determinam.

A crítica da razão e da moral, feita por Nietzsche, mostra-nos que esses temas são sempre atuais, pois deles sempre podemos extrair um novo aprendizado.

Fonte de Consulta

BRANDÃO, Eduardo. Nietzsche e a Crítica da Civilização. In: FIGUEIREDO, Vinicius (org.). Filósofos na Sala de Aula. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2007, vol. 2.

 

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