01 julho 2008

Lógica e Bom Senso

A lógica é boa nos raciocínios, mas nem sempre útil à compreensão da vida. A China, por exemplo, o país mais antigo e mais populoso da Terra, dá pouco valor à lógica. Seus pensadores preferem se dedicar à importância de viver. A filosofia de vida chinesa é desenvolvida em cima de epigramas – poesias breves e satíricas –, levando-se em conta o desperdício de tempo e de energia vital. A natureza, o rio e a planície servem de estímulo à captação desses pensamentos. 

Por que a lógica é nociva à vida? Porque ela dá importância exagerada ao raciocínio, ao uso de palavras. Isso traz como consequência a especialização, que tira do indivíduo a noção de todo, isto é, a interpenetração de todos os conhecimentos. A especialização torna a nossa mente muito estreita, distanciando-a muito das conotações filosóficas. A crítica e a reflexão, próprias do filosofar, ficam para segundo plano, quando não esquecidas. Por isso os chineses tratam muito mais de viver do que bem raciocinar.

O sentido positivo da ciência, ou seja, a busca de provas na realidade objetiva, acaba por nos induzir ao erro: achamos verdadeiro somente aquilo que é proveniente dos fatos concretos. As inspirações e as intuições, frutos da percepção extra-sensorial, são deslocadas para o campo do misticismo. O físico vienense Herbert Pietschamann, ao tratar das coisas da matéria e das coisas da alma, diz: a via das ciências naturais levaria ao conhecimento do exato; a via das ciências do espírito levaria ao conhecimento do verdadeiro.

Alguns escritores ocidentais renunciaram definir tudo o que escrevem. Entre eles, citamos William James e Shakespeare. Tanto um quanto o outro procurou desenvolver os seus pensamentos de forma corrente sem se preocupar muito com o significado implícito de cada palavra empregada. Isto porque a busca frenética pelo significado de uma palavra leva à procura do significado da outra, e assim sucessivamente. O método socrático de definir tudo o que se fala deixou rastros ao longo do tempo.

Enquanto o pensamento ocidental segue o cogito ergo sum de Descartes, os chineses seguem as ponderações de Walt Whitman: "Basta-me que eu exista". O senso de razoabilidade frente aos acontecimentos da vida tem mais valor do que a pretensa profundidade em ciência. Tenhamos em conta que somos um ser global. Para isso, precisamos tanto da lógica ocidental quanto da cultura oriental. Manter a ideia fixa em um dos dois sistemas é ser preconceituoso.

A união do pensamento oriental com o do ocidental é factível e mostra que a lei divina é única. Assim, para que possamos alcançar um grau maior de compreensão da vida, saibamos facear todo o conhecimento com a luz da ciência e da intuição espiritual.

Fonte de Consulta

YUTANG, Lin. A Importância de Viver. Trad. Maria Quintana. Porto Alegre, Rio de Janeiro: Globo, 1986.


Nenhum comentário: