29 junho 2008

A Cultura da Violência e o Princípio da Não-Violência

A origem da violência está na "cultura da violência". A "cultura da violência" — para ter o êxito que tem — necessita da "ideologia da violência". A ideologia, que é uma forma de pensar que não condiz com a verdade, fornece os subsídios teóricos para que a violência tenha uma aparência de racionalidade. Ainda mais: a violência é a matéria-prima da atualidade. Os meios de comunicação de massa não estão preocupados com as causas e as razões da violência; o sensacionalismo tem mais peso, pois atinge diretamente o emocional do ser humano.

A violência e a não-violência passam pela discussão da relação entre os meios e os fins. O provérbio nos diz: "Os fins justificam os meios". Eric Weil, filósofo e pensador francês, defende tal posição. Para ele, o objetivo da existência humana é conquistar a não-violência. Porém, mesmo tendo esse objetivo em mente, ele aceita que os meios empregados possam ser violentos. Devemos aceitar passivamente tal ponto de vista? Não? É preciso que tanto os meios como os fins sejam não-violentos; se uma das partes for violenta, o todo refletirá tal comportamento.

A violência pode ser vista nos escritos de diversos pensadores. Nicolau Maquiavel, em O Príncipe, foi um dos primeiros a afirmar a necessidade de recorrer à violência para governar a sociedade dos homens. Para ele, o mal não está na crueldade, mas na crueldade "mal empregada". Hegel também faz a sua apologia da violência. Para ele, o "estado de natureza" em que se encontram os homens em meio à sociedade civil é o "estado de violência". Max Weber, em O Ofício e a Vocação do Homem Político, ilustra bem a ideologia da violência no que concerne ao homem público. Para ele, aquele que quiser recusar a violência deve forçosamente renunciar à ação política.

Gandhi tornou-se mundialmente famoso pela prática da não-violência. A sua celebridade, contudo, não foi suficiente para que as pessoas o conhecessem. Apenas associam a não-violência ao seu nome. Os ocidentais, por exemplo, têm uma postura defensiva, pois acreditam que Gandhi estava imerso num orientalismo religioso, sem grandes contribuições para fornecer à filosofia. Gandhi não era filósofo profissional. Ele tinha uma única preocupação na vida: a procura da verdade. Dizia: "Sem a não-violência, não é possível procurar e encontrar a verdade".

A não-violência é o princípio fundamental da filosofia. A filosofia — como modo autônomo de pensar — é um caminho na busca da verdade. Para que o ser humano se liberte do seu passado e conquiste o seu futuro, ele necessita da não-violência, seja em que circunstância for. Possivelmente, ainda há muita luta para vencer a violência que há dentro de cada um de nós. Contudo, esse esforço não é inútil. É ele que vai dar à filosofia o instrumental necessário para que a humanidade se torne senhora desse princípio, o princípio da não-violência.

Viver de acordo com a não-violência não é tarefa fácil. Os automatismos do ódio e da vingança ainda estão arraigados em nosso subconsciente. É preciso muita fibra interior para não se deixar levar pela "cultura da violência" e pela "ideologia da violência", vigentes no mundo todo

Fonte de Consulta

MULLER, Jean-Marie. O Princípio da Não-Violência. Tradução de Inês Polegato. São Paulo: Palas Athena, 2007.


 


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